domingo, 15 de novembro de 2009

Capítulo 15


O lar de um carro é sua garagem. Às vezes é só uma cobertura que o protege da chuva, outras vezes é um espaço amplo e fechado, com portas automáticas e ambiente arejado. Um carro sem garagem é como um pássaro sem ninho. Não pode fazer nada além de definhar. Tudo aquilo que tem valor precisa de um lugar para ser guardado. Se não temos um lugar para guardarmos a nós mesmos, ficamos enferrujados com a chuva e queimados com o sol. Nós não encontramos nenhum lugar para recostar a cabeça. O maior problema de muitas pessoas é que elas simplesmente não possuem um lar. Um lugar seguro, um refúgio.

O menino estava na rua depois do colégio. Sua mãe o havia mandado ir para casa tomar banho, mas ele insistiu em ficar na rua. Estavam brincando de polícia ladrão. Ele era um dos poucos naquele lugar que sempre queria ser policial. Moda ali era ser bandido. A mãe saiu de casa atrás do menino. Não era pra ficar na rua até tarde. Ela sempre dizia pra ele voltar pra casa e ele sempre insistia em não voltar. Os policiais chegaram, e o menino quis brincar com eles. Eram seus heróis, diferente da imagem que os outros meninos tinham. Para os outros, os policiais eram maus. No final das contas, todos eram maus, mas os meninos queriam acreditar que um lado era melhor. A mãe saiu de casa e foi até o carro. Era bem velho, mas funcionava. Naquela rua ela era a única que tinha carro. Diziam que ela era mulher de gringo. Quando ela saiu e viu os policiais o seu rosto passou de moreno para branco. Gritou para o menino entrar e ele correu até ela. Ele ia pedir para não ir pra casa ainda. Quando ele chegou perto da mãe ela o tiroteio começou.

-    Pra casa! Você tem que ir pra casa!

O menino saiu correndo pelas vielas. Não Foi pra casa. Escondido ele viu a mãe ser rendida e revistada ao lado do carro. Os bandidos lançaram uma rajada de tiros e os policiais foram acertados. Mas ele não prestou atenção nos policiais. Sua mão foi atingida no olho esquerdo. A bala atravessou a cabeça e não quebrou o vidro de carro. Ele ficou ensopado de sangue e alguma coisa viscosa. O menino fugiu. Ele nunca mais entrou em casa.

Jack acordou na cabana onde dormia com Kimberly e Cat.

-    Sonhou com o menino de novo? – perguntou Kimberly.
-    Sim. Fiz barulho?
-    Não muito. Você ficou dizendo “vai pra casa” repetidamente. Imaginei que fosse esse mesmo sonho.
-    Eu costumava ter esse mesmo sonho quando era mais novo, mas desde que entrei pra Interpol ele parou. Só agora que ele voltou.
-    É. Você me disse.

Um soldado veio chamá-lo. Nos últimos dias Jack estava trabalhando com o exercito americano. Tentava a todo o custo amenizar os conflitos entre os refugiados da América do sul e dos estadunidenses. A princípio pensavam que se tratava de problema de comunicação. Que se tratava de algum mal entendido. Mas logo ficou claro que eles formaram como que clãs no campo de refugiados e começaram a matar uns aos outros. Segundo consta, isso era devido á escassez de suprimentos. Mas esses suprimentos vinham aos montes dos mercados. Poucos cidadãos conseguiram se salvar, e muitos foram mortos por engano quando tentava entrar no campo de refugiados. Os soldados estavam começando a se negar a proteger os refugiados estrangeiros. Alegavam que não era seu dever. Mas o problemas daquela manhã era outro.
Segundo explicou um soldado, um sujeito Brasileiro estava gritando de manhã cedo e acordando os civis. Ele estava no meio dos americanos, que focavam mais distantes da cidade, na estrada. Jack o abordou.

-    Mary!! the virgin!!
-    Amigo. Falo português. Qual foi o problema?
-    Graças a Deus! Eu encontrei a nossa salvação! A nossa salvação!
-    Senhor. Acalme-se e explique o quer dizer.
-    Eu vi a virgem maria na estrada. Havia pelo menos cem deles atrás de mim e essa mulher surgiu na minha frente. Mulher não, a virgem. Ela levantou a mão direita e todos eles pararam. Ela sorriu para mim e me levantou do chão. Ela segurou cem daqueles monstros sem nem encostar neles!
-    O senhor tem se alimentado apropriadamente?
-    Sim senhor.
-    Tem usado algum tipo de entorpecente? Soube que muitos tipos de droga têm transitado livremente pro aqui.
-    Eu não uso essas coisas. Sou católico.
-    Veja só, senhor. Sei que está muito traumatizado com tudo isso. Distúrbio de estresse pós-traumático é comum apresentar casos de alucinação.
-    Não é alucinação, senhor. É a Virgem. Ela está aqui para nos salvar!
-    Eu acredito no senhor. Na verdade isso que eu falei é o que você tem que dizer pra eles. Eles não são capazes de entender isso. Garanto que a Virgem virá nos salvar, quer eles acreditem, quer não. Não precisa gritar. Isso te coloca em perigo.

O homem as acalmou. Só queria que alguém o ouvisse. Jack não acreditava numa palavra do que disse, mas falou para dar esperanças ao homem. Afinal, quem era ele para tirar os sonhos de um homem? Se ele era louco, mas estava radiante, que necessidade havia de trazê-lo á realidade. Isso não seria mais do que um ato de rancor.

-    Você pensa que eu sou louco, não pensa? – perguntou o homem.
-    Eu? Eu penso que eu sou louco. Quanto ao senhor, ainda temos que verificar.
-    Hehehe. Você é um bom homem. Eu sei que não acredita em mim. Eu também não acreditaria sem ver.

Ficaram por um tempo em silêncio, e com um aperto de mão se despediram. O homem andou com um sorriso nos olhos que chegava a incomodar os soldados próximos. O xingaram, mas ele não entendeu. Parece que cada um lida com essa tragédia de maneira diferente. Jack o seguiu. Descobriu que morava numa barraca com mais duas pessoas. Não conhecia, mas estava sozinho e tinha que dividir. O lado da América do sul estava caótico. As pessoas pareciam estar em clima de conflito naquela manhã. Algo as segurou, aparentemente, pois só latiram. Mas Jack sabia que aquilo não duraria muito.

-    É o seu dia de folga, Jack. – disse Kimberly.
-    Eu sei, Kim. Mas eu tenho que fazer alguma coisa. Essas pessoas vão e matar.
-    Você vive sempre ocupado com os outros. E você, como fica? Eu quero conversar com você.
-    Sobre o que?
-    Vamos pra nossa barraca?

Jack olhou para as pessoas. Estavam como que se preparando para um conflito. Ele notificou os soldados para que controlassem qualquer conflito. Estava encarregado daquela área. Entraram na barraca. Era bem espaçosa, mas viver ali era difícil. Tinham que sair para um lugar separado para usá-lo como banheiro. Além de ter um cheiro podre, era distante. Banho eles quase não tomavam. Só quando os militares davam o banho coletivo. Algumas pessoas desavisadas tentaram tomar banho no rio Hudson, que ficava a alguns quilômetros dali. Mas era um rio podre. Não só poluição. Passavam cadáveres boiando ali.

-    To preocupado com você, Jack.
-    Porque?
-    Por causa desses pesadelos.
-    Ah sim. É que eu preciso me mudar.
-    Como assim?
-    Desde que me entendo por gente, lá pros sete anos, eu me mudava pelo menos uma vez por ano. Às vezes duas vezes num ano. Eu tinha esse mesmo pesadelo, mas quando me mudava eles paravam. Só preciso sair daqui.
-    Mas porque tem que se mudar?
-    Sei lá. Tem essas doideiras na minha cabeça. Eu fico desesperado pra voltar pra casa, mas sempre que eu consigo uma casa ela me apavora e eu tenho que sair. Sempre que eu penso que estou indo para casa eu me apavoro e me mudo. Eu sou maluco mesmo.
-    Você lembra da sua mãe?
-    Muito pouco. Sei que ela era morena e tinha cabelos cacheados. Tenho uma foto. Mas parece que com o tempo as imagens dela foram desaparecendo da minha mente. Eu tive que deixar ela ir.

Um soldado veio chamar Jack novamente. Parece que estavam fazendo algum tumulto no lado da América do sul. Jack foi lá para dizer o que estavam dizendo. Pareciam ameaçadores, segundo os soldados, e parece que as armas estavam circulando na mão de civis. Poderia estar planejando algum motim. Jack se desculpou a Kimberly com um olhar. Ela estava chateada por ele aceitar trabalhar em dia de folga. Ele seguiu o soldado e chegou até uma pequena multidão que se reunia para ouvir um homem falar. Ele estava em cima duma pedra.

-    Esses americanos são uns idiotas! O mundo acabou e eles ainda acham que isso aqui é deles. Eles que se fodam!

As pessoas gritaram. Começaram a se aglomerar. O homem que fez gritaria do lado dos americanos sobre ter visto a virgem Maria se aproximou da pedra.

-    Vocês não precisam se preocupar. A virgem foi mandada por Deus à terra. Ela acabará com toda essa destruição e teremos uma vida próspera. Só temos que ter paciência e tudo vai se resolver.
-    Você é doente mental, velho? Acha que alguém aqui acredita nessa merda? Meu amigo, se deus existisse ele não deixaria minha filha ser devorada e minha mulher ser fuzilada. Deus é que se foda, não podemos depender de um amigo imaginário. Se não agirmos agora, nem a virgem e nem deus nos salvará. Está tudo planejado. Amanhã de manhã atacaremos e tomaremos esse lugar. Eu prefiro morrer a ter que viver assim como um escravo nas mãos desses filhos da puta.
-    Se você atacarem, certamente morrerão. – respondeu o velho com calmo e determinação. – não conseguem vem um palmo além do seu próprio nariz.
-    Não, senhor. Se nós não atacarmos nós morreremos. Por mais que você prefira ser omisso e viver em ilusões vazias, nós decidimos lutar. É a nossa escolha e salvará a sua vida.
-    Ele está certo. – disse Jack. – vocês não têm chance. Vai ser um massacre.
-    Já é um massacre Jack. Vai fazer o que? Vai falar pra eles? Vai entregar a gente?
-    Não preciso. Eles podem sentir. Os armamentos deles são mais poderosos. Não faça isso.
-    Eu vou agir como se o seu conselho fosse sábio. – disse o homem na pedra assumindo um tom calmo. – e todos nós vamos dormir hoje calmamente, como se você tivesse nos mostrado como o nosso plano é absurdo. Mas amanhã de manhã bem cedo nós sairemos e lutaremos pela nossa liberdade. Nós nos recusamos a aceitar essa tirania. Não mais!

As pessoas obedeceram cegamente. Jack não entendia como tanta gente estava se prestando a obedecer aquele homem sem que nenhum questionamento fosse levantado. Imaginou que ele era muito persuasivo ou que ele estivesse apenas colocando para fora o que estava dentro da mente de todas aquelas pessoas. Ele não ia entregá-las, porque sabia que no fundo tinham alguma razão. E se os entregasse eles morreriam sem nunca ter lutado pro sua liberdade. Apesar disso, parecia loucura para ele que mesmo depois de tanta destruição as pessoas ainda estivesse pensando sem e matar. Na verdade, pensando melhor, ele concluiu que depois de tanta destruição a batalha foi a única coisa que restou na mente dessas pessoas. De qualquer maneira, já estava mesmo chegando a hora de partir. Aquela cabana estava se tornando um lar e ele precisava encontrar uma maneira de escapar. A voz interior dele já estava indicando que a hora de partir era eminente.
Um avião chegou ao local. A comunicação foi cortada e o pessoal da ONU provavelmente só estava fazendo o planejado. Chegaram com um avião vindo do Brasil. Jack foi até lá, porque era ele que lidava com os refugiados da América do sul.
O avião pousou e fez meia volta no solo. Se dirigiu para o ponto de desembarque. Os americanos protestaram contra a chegada de mais “cucarachas” e os refugiados da América do sul não deram muita atenção ao evento. Estavam se organizando. Os soldados levaram os novos refugiados junto com o piloto e o co-piloto para a estrada. Encheram dois ônibus e seguiram. Curioso e imaginando que se tratava de um novo campo de refugiados, o que poderia resolver os conflitos, Jack conseguiu um jipe e foi atrás dos ônibus. Atrás dele veio um caminhão cheio de soldados. Ele não sabia que estavam cheio.
Chegaram num ponto da estrada onde um grande acidente impedia a passagem. Uma carreta estava tombada com alguns carros engavetados. Já há muito tempo não tinha fogo ali. Os ônibus pararam e os refugiados foram ordenados a sair do ônibus. Um soldado pegou um detector de metal e começou a examinar um deles. Deu sinal e outro soldado fuzilou o sujeito. Alegaram que estava infectado. Jack protestou contra aquilo e o Major o chamou para conversarem. Havia um campo de golfe ali perto e eles andaram na direção dele.

-    Estou certo de que você, como cidadão americano, percebe o absurdo de mantermos esses cidadãos aqui. Veja só, eles deveriam ter ficado no novo México, mas por algum motivo aquela área foi considerada pouco segura. Um absurdo, porque isso não impediu eles de manterem os cidadãos americanos morando nessa área de risco. Esse governo foi muito estúpido e deu prioridade aos refugiados em lugar de proteger os cidadãos da nossa nação. Filho, eu não paguei meus impostos para sustentar refugiados de outros países. Por favor, não interfira. Estou percebendo que um conflito pode começar em breve porque eu vi aquela confusão que aconteceu na área dos sul-americanos. Estão começando a pensar em rebelião, e sei que em breve poderão ser um risco. Não quero que o número deles aumente, então decidimos dar cabo nesses aqui. São muito poucos os sobreviventes americanos e queremos honestamente protegê-los. Você pilota, não é?
-    Sim, senhor. – disse Augusto ainda meio tonto depois de ouvir tanta coisa. – piloto aviões e helicópteros.
-    Sorte a nossa que temos um cidadão como você. Então, filho. Está conosco?
-    Sim, senhor.

Ele estava mentindo, mas parece que o major não percebeu. Ouviram mais tiros e pessoas gritando e chorando. Jack começou a sentir um desespero imenso dentro de si e para aplacar tal sensação ele começou a falar.

-    Não é perigoso andarmos por aqui?
-    Não. Nós patrulhamos a área. Está limpa. Você está mesmo conosco, filho?
-    O senhor não confia em mim?
-    Eu precisei confirmar porque as informações que vou te passar agora são sigilosas.

Os sons de tiros únicos mudaram. Nesse momento começaram a metralhar. Alguns fugiram na direção do mesmo campo de golfe. O Major mirou na cabeça de uma mulher que se aproximava e atirou. Acertou em cheio.

-    Jesus Cristo. Parecia infectada!

Ele não esboçava nem uma sombra de culpa por ter matado aquela mulher. Dava pra perceber pelo olhar dele que ele achava estar fazendo o certo. Achava que era seu dever lutar por sua nação. Jack não pensava assim e sua aversão aumentava. Por outro lado, ele também não queria se unir aos outros refugiados. Ele não queria nem estar ali.

-    Então, filho. Recebemos notícia de que há uma base no Canadá que está bem protegida contra essas ameaças e que querem militares e civis para ocupá-la, pois tiveram severas baixas e o local está vazio. Eles necessitam de olhos e de pessoas para trabalhar lá. Formaram uma nova sociedade. Nós tivemos que matar os pilotos desse avião e você será nomeado o piloto oficial.
-    É uma honra, senhor. Mas precisamos verificar a situação com o combustível. Preciso saber a que distância essa base fica daqui para saber quanto gastaremos. Sei que temos aqui um estoque de combustível de avião. Agora entendo porque o coletaram.
-    Vamos à minha sala e eu te mostrarei as coordenadas do local. Ele possuem inclusive um aeroporto exclusivo.

Os dois deram meia-volta e foram caminhando em direção à estrada. Os homens estavam empilhando os corpos para queimar. Jack estava profundamente abalado com aquilo, mas não disse nada. O major parecia olhar para ele num tom de orgulho. Os outros soldados olhavam para o major com um respeito que irradiava pelos seus semblantes. Ele era como um deus para aqueles homens. Pareciam estranhos para Jack aqueles olhares. Eles brilhavam como se estivesse lutando pelo seu lar, e por esse lado ele não os desprezava. Mas por outro lado ele sentia repulsa da matança de inocentes. No fundo ele não sabia se faria isso por sua casa. Afinal, ele tinha aquela vontade de encontrar seu lar. Será que, ao encontrá-lo, ele não faria atrocidades para defendê-lo?
Chegaram no acampamento e Jack foi até o escritório do Major, que era basicamente uma barraca com estrutura melhor e maior. Lá dentro ele ligou um notebook e mostrou num mapa onde era o lugar. Jack sabia que era bem próximo, pois se encontrava no sul do Canadá.

-    Você não acha apropriado trocar de tenda, já que os outros refugiados podem ser hostis com você?
-    Sim, senhor. Amanhã eu gostaria de ser realocado de lá. Preciso conversar com a minha mulher hoje e explica tudo antes de simplesmente sair.
-    É sua esposa, ela?
-    Sim, senhor.
-    Porque não têm aliança.
-    Nós estávamos divorciados, mas voltamos depois dessa tragédia.
-    Que bom que isso tudo te fez voltar pra sua esposa. A minha estava fazendo intercâmbio em Paris para aprender a falar francês.

Jack estava mentindo descaradamente, mas sentia que se não disesse essas coisas eles poderiam considerar Kimberly supérflua. Apesar de dizerem que queriam salvar o povo estadunidense, era óbvio que os militares e suas famílias eram prioridade. Os infectados de Nova Jersey, que era ali perto, chegariam em breve ao acampamento e era necessário fugirem rápido. Em caso de imprevisto, os civis seriam descartados. Depois dos cumprimentos normais, o major falou mais uma coisa.

-    A partir de hoje o senhor é tenente do exercito americano. Nós somos uma grande família, e você verá. Somos todos filhos dessa nação. Nós protegemos nossos irmãos.

Lá fora ele percebeu que sua nomeação só era novidade para ele. Todos já o reconheciam como tenente a muito tempo por sua coragem e capacidade de planejamento estratégico. Com cumprimentaram com a reverência própria dos militares, ao que ele respondeu naturalmente. Já havia servido o exército antes.
Depois de receber a parabenização de todos e de todas as formalidades ele ganhou uma garrafa de vinho e voltou para casa. Sua cabana. A idéia de estar voltando para casa o aterrorizava, mas ele sabia que era a ultima noite. Isso o confortava. Mandaram um soldado para escoltá-lo e protegê-lo e eventuais hostilidades por parte dos refugiados.
Dentro da cabana, Kimberly o recebeu com hostilidade.

-    Não acredito que você ficou tanto tempo fora. Você não pode deixar eles te explorarem assim!
-    Querida, eu fui promovido à tenente. – disse ele pedindo para ela ficar em silêncio. – pegou um caderno e uma caneta. Escreveu para ela.

“Não faça nenhum barulho. Daqui a pouco você precisa dar leves gemidos. Eles mataram todos os novos refugiados e planejam ir embora daqui e deixar todos para morrer. Os refugiados amanhã cedo vão começar um motim e vai ser uma zona de guerra aqui. Nós precisamos sair daqui o mais rápido possível.”

Kimberly ficou agitada e Cat percebeu. Começou a miar. Ela pegou o caderno e começou a escrever.

“Porque estamos só escrevendo ao invés de falar?”

Ela começou a dar leves gemidos e ele a acompanhou. Pareberam que o soldado reagiu aos gemidos. Parecia estar rindo lá fora. Jack voltou a escrever.

“porque eles pensam que estou do lado deles, mas não podem ouvir isso que tenho a dizer. Amanhã de manhã eu vou instruir alguns soldados para encherem o tanque do avião e aí nós partimos daqui pro Brasil.”

Ela pegou o caderno.

“Porque o Brasil”?

Ele tomou de volta, mas demorou a escrever. Deu um beijo no pescoço dela para fazer o barulho e isso criou um clima entre os dois.

“Eu não sei. Mas temos que ir pra lá. Eu sinto.”

Ela pegou o caderno da mão dele e também lhe deu um beijo. Depois deu outro e largou o caderno. Começaram a se beijar apaixonadamente. Uniram-se por ironia do destino enquanto tentavam escapar dos mortos vivos e agora estavam se agarrando no colchão da barraca. Eles não se amavam propriamente. Só estavam com muito tesão.
Jack sempre fazia exercícios físicos e por isso se mantinha bem forte. Além de ser musculoso ele era grande, e isso despertava algum desejo nele. Ela, em contrapartida, em bem baixinha e loira. Tinha olhos esverdeados e um cabelo curto. Cortou quando já estava no acampamento. Sua característica marcante era os lábios. Carnudos.
Na verdade era precisamente o tipo de mulher que Jack gostava. Ele não tinha pensado nisso com atenção até aquele dia porque estava ocupado demais com os monstros. E naquela noite ele também não pensou em nada. Só agiu.
Eles usavam uma roupa padrão. Muito fácil de tirar e colocar. Quase descartável.
Jack tirou a blusa de Kimberly e apalpou seis seios. Tão pequenos em relação àquelas mãos enormes. Fez movimentos circulares e depois colocou o rosto entre eles, beijando-os e depois subindo até o pescoço, depois até a orelha e finalmente à boca. Aqueles pequenos lábios carnudos. Afinal, onde ele estava com a cabeça que nunca fez aquilo antes?
Apesar de ser pequena, Kimberly gostava de dominar. Segurou Jack pega blusa e o colocou deitado na cama. Ele segurou a cintura dela enquanto ela tirava sua camisa. Levantou os braços e ela a tirou fora.
Ela o beijou inteiro, desde o umbigo até o pescoço, e depois voltou a descer. Puxou a calça dele. Era bem frouxa e saiu facilmente. Ele já estava no ponto, mesmo com todo aquele volume. O tempo que ele ficou em abstinência o fez se excitar facilmente.
O histórico dela era bem sombrio. Ela sabia muito. Chupou com vontade, como uma mulher que realmente está familiarizada com isso. Lambeu com vontade de cima à baixo. Jack gemeu de verdade e em bom som. As mãos dela eram bem pequenas e macias. Junto com a boca, elas deixavam Jack louco. Ele estendeu as mãos e segurou a cabeça dela. Depois de algum tempo curtindo, ele puxou delicadamente Kimberly para si, ao que ela já veio em seu encontro. Ela tinha um sorriso diferente no rosto. Com os olhos meio fechados.
Por mais que estivesse relativamente frio, eles já estavam suando. Ele tirou o sutiã dela com facilidade. Eram seios lindos. Bem firmes e com tetas rosadas. Bem do jeito que ele gostava. Meteu a cara entre eles de novo enquanto ela tirava a calça junto com a calcinha. Com facilidade ele a ergueu e ficou em cima dela. Ela gostou de ser dominada.
Ele desceu por aquele corpinho bem formado dela. Quem diria que ele salvaria uma garota tão gostosa?
Ela tinha pernas grossas, mas não grossas demais. Eram bem fortes. Provavelmente ela malhava com freqüência. Seus braços, em contrapartida, eram delicados, e suas mãos também. Ele beijou as mãos dela e depois o pulso e subiu pelo braço. Beijou a boca dela e depois desceu pelo pescoço até os seios. Passou pelo umbigo e desceu até a boceta. Tinha algum pelo, mas ele sabia que antes era depilada. Aquilo era devido às circunstancias.
Ele chupou com vontade. Com os braços segurando as pernas dela e as mãos dela sobre sua cabeça. Lambeu de cima à baixo. Ela também gemeu, e em resposta a isso a sombra do soldado sumiu da frente da cabana.
Kimberly gozou na boca dele. Ele percebeu pelos movimentos que ela fez com a perna e o som rouco que ela fez com a boca. Parecia estar segurando um grito.
Ele subiu e entrou nela. Foi bem rápido, parecia já não agüentar mais esperar. Ele a beijava pouco nesse ponto, apesar de ela parecer querer mais beijos. Ele não conseguia perceber muita coisa. Estava extasiado.
Alternaram entre diversas posições, dentre as quais algumas eram bem exóticas. Coisa da Kimberly. Transaram por quase duas horas, até que já não tinham mais fôlego. Não deram muita atenção, mas Jack gozou dentro duas vezes.

-    Caralho, como eu queria um cigarro. – Disse Kimberly.
-    Você vai ser tratada como minha esposa enquanto estivermos aqui. É melhor pra sua segurança. – sussurrou Jack
-    Tá. Você viu o Cat?
-    Não. Acho que fugiu.

Kimberly colocou a cabeça para fora da cabana e viu o soldado com o gato nas mãos. Ele trouxe de volta para ela, tratando-a com certo respeito, embora estivesse impresso no olhar dele o reflexo de seus pensamentos.
Não estava muito tarde. Não estavam com relógio, mas estimavam que fosse lá pras dez da noite.

-    Amanhã nós vamos pegar o avião e ir embora daqui. – sussurrou Jack.
-    Ta bem, mas vamos pra algum lugar melhor. As praias do Brasil não devem estar boas pro bronzeado com essas coisas soltas por aí.
-    Não. Tem que ser lá.
-    Bem, esse sua intuição já nos salvou uma vez. Ficar aqui é que eu não quero.

Dormiram abraçados. O gato encontrou uma maneira de se meter no meio dos dois. Jack o envolveu com o braço esquerdo enquanto dormia e ele se acomodou. Uma família feliz?
Dormiram bem naquela noite até dar três e meia da manhã. Novamente Jack teve o pesadelo. O menino tinha que ir para casa e a mãe dele morreu. Mudou um pouco. O menino não mais se escondia depois. Dessa vez ele ficou exposto, embora nenhum tiro o tenha atingido.
Jack levantou num pulo e Cat arranhou seu braço. Ficou assustado.

-    De novo esse sonho, Jack? A gente tem que conversar melhor sobre isso.
-    Volta a dormir.

Jack colocou a cabeça dela na bochecha e ela voltou a dormir rapidamente. O gato voltou para perto ao perceber que não havia perigo, mas não se deixou envolver. Só ficou deitado no colchão com a cabeça relativamente virada para cima. Era esperto, mas muito desconfiado. Os vizinhos de Kimberly não gostavam dele. Jack cochilou até as seis. Quando levantou foi num susto. Estava apavorado. Como se estivesse extremamente atrasado, despertou Kimberly e mandou ela se vestir. Ela se vestiu e arrumou o cabelo.

-    Não temos tempo de arrumar as coisas. Temos que ir embora. – disse ele.
-    Sem problemas. Nem tenho nada pra levar.

Eles saíram da barraca e o soldado o cumprimentou. O seguiu te o aeroporto e lá havia mais três de guarda. Jack convocou os quatro soldados para ajudá-lo a encher o tanque do avião. Eles estavam estranhamente habituados com aquilo, embora seu uniforme fosse o das forças armadas terrestres.

-    Tenho ordens do Major para posicionar o avião e deixá-lo pronto para decolar. Parece que os refugiados estão preparando uma rebelião hoje. Fiquem alerta e não deixam ninguém se aproximar do avião.
-    Sim, senhor. – responderam os soldados.
-    Vou levar minha esposa. Ela ta doida para ver como é o avião. – disse Jack.
-    Desculpe, tenente, mas o major não permite a entrada de civis no avião.

Kimberly fez cara de criança que não ganha brinquedo e Jack falou com o soldado que o vigiou no turno da manhã. Ele ouviu sobre a noite do outro soldado.

-    Cara, ela está querendo dar uma dentro do avião. Ela tem fetiche com essas coisas, sei lá.
-    Vai transar com o gato também? – perguntou o soldado rindo e sussurrando.
-    Pois é, cara. É maluca, ela. Quer transar, mas trás o gato. – respondeu Jack rindo.
-    Cuidado, senhor. Esse gato quer roubar é a tua mulher. Fica de olho não pra você ver.

O soldado foi até os outros e contou sobre a suposta intenção de Jack. Olharam para eles e Kimberly estava beijando Jack. Não desconfiaram de Jack que tantas vezes arriscou a vida por eles. O deixaram entrar com a condição de que se o major ficasse sabendo ele assumisse a responsabilidade.
Ele aceitou os termos e subiu no avião com Kimberly e Cat. No fundo ele se sentia mal por trair a confiança dos soldados.
Os soldados prepararam a parte externa do avião e fecharam a entrada de combustível. O tanque estava cheio. Jack posicionou o avião na pista pronto para decolar e esperou.

-    E agora? – perguntou Kimberly.
-    Agora a gente espera.
-    Por quê?
-    Vai começar a matança lá no acampamento logo, logo. Se tentarmos decolar agora eles derrubam a gente.
-    Ah...

Logo depois que ele começou a falar isso ouviu-se o som de três explosões consecutivas. Explodiram as metralhadoras maiores. Jack olhou pelo vidro do avião e viu os soldados ainda ali defendendo o avião até que um sargento os convocou e eles foram correndo para o acampamento. Jack ligou as turbinas e acelerou. Tudo em bom funcionamento. O avião decolou e ele imediatamente deu meia volta. Lá em baixo eles viram o caos. Os infectados invadiram o acampamento. O major tentou atirar no avião com um anti-aéreo, mas um jumper pulou sobre ele e o derrubou. Eram milhares de infectados e pessoas se matando. Numa certa altitude eles não eram mais capazes de dizer quem eram os humanos. Mais uma vez Jack deixou um falso lar para trás e sua busca por sua verdadeira casa estava por começar.

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