sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Capítulo 16


Eles me disseram que no final tudo dá certo. Que se tudo não está bem, é porque ainda não terminou. Que sempre existe um final feliz. Se no final tudo sempre dá certo, então eu acho que não existe o final. Isso será assim pra sempre. Um pesadelo. Para além do tempo no reino das trevas, do frio e do vazio.

Eu estava no inferno novamente. Dessa vez eu cheguei até a mesa onde Mefistófeles e o velho estavam me esperando. O velho estava tenso e eu sentia que possuía uma mensagem em mim para ele. Não sabia muito bem que mensagem, mas tinha que deixar fluir das profundezas do meu ser.

-    Porque, irmão? Porque você me abandona? – perguntou o velho.
-    Não te abandono. Você está enganado.
-    Você está me deixando sozinho. Você fez um pacto de que não me deixaria sozinho aqui!
-    Irmão. Você deixa a si mesmo sozinho. O tempo de aprendermos sobre a destruição acabou. Precisamos agora continuar nosso caminho. Precisamos deixar a corrente nos levar para novas possibilidades.
-    Eles te contaminaram. Você devia ter impedido isso.
-    Não. Não devia.
-    Eu não posso continuar sem você. Será que não entende? Nós representamos o equilíbrio do universo!
-    Você está perdendo o contato com sua essência, irmão. Não percebe? Mefistófeles não é você. Não é a sua função manter o equilíbrio. – eu falei sem muita consciência do que isso queria dizer.

Mefistófeles me jogou a carta e eu peguei com a mão direita. Quando a passei pra esquerda ela desapareceu. O anel a destruiu.

-    Viu? Em breve esse anel terá te profanado tão profundamente que você já poderá voltar ao inferno. Eles te querem como um escravo, você sabe disso.
-    Não. Sou eu, irmão. A minha essência mudou nesses milênios. Eu já não sou aquela criatura destruidora que fez o pacto de servir a desintegração. Nem você.
-    Você está perdendo o juízo. A energia deles está tomando conta do seu ser.
-    Não. A totalidade está tomando conta do meu ser.

Eu levantei minha mão direita e mostrei a ele. Minha pele começou a envolver o anel de Mefistófeles. Ele se acoplou de tal maneira em mim que nos tornamos um.

-    Você é um só. Como pode ter essas forças dentro de si? Como pode ter todo o universo na sua alma e sua alma em todos universo? Como!?
-    Eu parei de perguntar como e deixei o meu corpo flutuando no cosmo. Aí os fluidos da natureza, os que caminham para a totalidade, me mostraram o caminho. Não é um caminho a ser controlado e entendido, mas a ser sentido e vivido. É o caminho para o infinito.
-    Então era esse o convite. – disse o velho ao jogar as cartas na mesa.

Mefistófeles não falava sequer uma palavra. Ele não é um ser humano, mas uma força do universo. Não pode deliberar. Ele só é.

-    Você também o recebeu, irmão. Junte-se a mim. – disse eu com esperança.
-    Não posso. A minha alma e Mefistófeles estão fundidos. Eu fiz isso para que você pudesse ser livre.

A mesa voou e eu vi a perna direita dele. A partir do joelho ela deixava de ser a perna dele e passava a ser a de Mefistófeles. Os dois permaneciam na mesa daquela maneira porque suas pernas estavam presas como que cirurgicamente. Por causa daquilo ele só poderia trilhar o caminho do diabo. Uma voz rouca, a minha voz, gritou perguntando quem eu era. Eu perguntando a mim mesmo como se eu fosse outra pessoa.

-    Meu tempo está acabando. Irmão, Encontrarei gaia. A encontrarei e você será livre. Eu prometo.

O velho me olhou com um olhar de quem não gosta da idéia, mas que ao mesmo tempo parece aceitá-la. Fui puxado para fora do inferno e o portão se fechou. Não seria pelo portão do tártaro mais o meu caminho. Tantas vezes o trilhei, mas isso tudo ficou no passado. Agora era a hora de buscar as respostas. De encontrar Gaia. Mas o mundo balançou e eu fui convocado à realidade.

-    Acorda, Roberto! – disse Isabela com um tom de voz agitado.
-    Que? Que horas são?
-    Dez horas!

Ela sacudia minha mão direita enquanto tentava tirar o anel do meu dedo. Parecia incomodada porque o anel não saia.

-    Ta preso no seu dedo. Ta apertado, vai dificultar a circulação de sangue.

Eu ainda estava atordoado. Não foi uma noite tranqüila e eu poderia com facilidade descansar um pouco mais. No dia anterior nós trabalhamos reunindo os recursos numa camionete para podermos seguir viagem hoje. Carreguei peso e foi um dia bem vazio. Quase não falei com Isabela. Só fiquei como sempre imerso em pensamentos e olhando ao redor. Com medo de ser atacado. Eu sabia que o jumper estava por ali, mas ele não atacou. Tudo pronto.

-    Deixa o anel, Isabela. Fala sério. – disse eu com a voz grave que tenho quando acordo.
-    Eu não gosto desse anel. É horrível! – Respondeu ela.
-    Esse anel é um símbolo, Isa. Tirar ele do meu dedo não vai mudar o fato de que ele representa uma parte de mim.
-    Você está enganado. Você não é isso.
-    Não? Eu sou o que?
-    Você é uma pessoa boa.
-    Olha. Desculpe ter de me opor a isso, mas eu sei que não sou uma pessoa boa. Não me aproveito das pessoas simplesmente porque os bens materiais não me interessam. Na verdade, de um modo geral, poucas pessoas me interessam. Eu presto mais atenção nas pessoas que minha intuição aponta. São como que fontes para meu crescimento pessoal. Eu nem sou humano.
-    Não fala assim. Claro que você é humano.
-    Meu corpo é humano, mas meu espírito não. Não é atoa que eu sempre me senti um estranho nesse mundo. Pra falar a verdade eu não me sinto desesperado porque o mundo acabou. Isso não me importa, porque de alguma forma eu sei que os zumbis são outra coisa que não pessoas. Quando eram pessoas, não eram indivíduos pra mim. Se eu ajudava alguém, não era por ter consideração pessoal, mas por um impulso interno e indiferente. Muitas vezes na minha vida eu fui chamado de frio, insensível, psicopata...
-    Que absurdo! Quer dizer que você ajudava as pessoas e ainda te chamavam de psicopata?
-    É. Elas não querem o tipo de ajuda que tenho para oferecer. Querem calor humano, consideração. Querem que quem as ajuda seja um ser vivo, e isso eu não sou. Acho que meu espírito está tão distanciado da vivência humana que não sei se posso encontrar um caminho para isso.
-    Você ta parecendo o Felipe falando essas coisas. Para com isso. Não gosto de você falando assim. Claro que você é vivo. Você demonstra consideração por mim.
-    Involuntariamente. Eu sinto, por algum motivo, que você pode melhorar meu espírito. Se não fosse assim, você seria irrelevante. Como o soldado que morreu e eu nem sabia o nome dele. Na minha vida existem bilhões de figurantes espalhados pelo mundo. Não sou capaz de me interessar pessoalmente por uma pessoa. Talvez eu me interesse pelos problemas dela, mas não é nada pessoal. Aliás, devo te dizer, da mesma forma que eu faço o bem a troco de nada, o mal que eu faço é a troco de nada.
-    Como assim? Não estou entendendo direito isso. Você faz maldade com as pessoas?
-    Sei lá. Eu tive um sonho muito maluco essa noite que meio que reforçou minha certeza de que meu espírito só muito recentemente veio descobrir o que é ser humano. Eu me sinto como uma força do universo descobrindo como é a sensação de ser humana mais uma vez.
-    Caralho! Nunca ouvi tanta merda na minha vida! Vai soltar o que agora que é um psicopata quântico que mata as pessoas enquanto faz viagens astrais pelo mundo dos espíritos? – Rodrigo falou rindo. – beleza, chega de papo inútil. Estamos saindo.
-    Cadê a minha esfera? – perguntei.
-    Sua esfera? Porque sua?
-    Eu que guardei até hoje. Você não tem capacidade intelectual pra avaliar isso de qualquer maneira.
-    E você tem né, senhor gênio. Vai dizer o que, que ela é controlada por um espírito extra-terrestre quântico. De qualquer maneira, está com o José. Ele vai com a gente então você pode pegar depois e fazer sua análise quântica sobre ela, senhor gênio!
-    Vai se foder, cara. – disse eu num tom seco.

Ele ficou em silêncio. Um sorriso malicioso no rosto. Parece que ele queria isso. Só me provocar até eu falar um palavrão. Parece um objetivo meio estúpido. É como se ele quisesse provar pra mim, de alguma maneira, que eu sou como ele. Parece que se irrita com qualquer merda e fica incomodado com o fato de que quase nada realmente me abale. No fundo, outra coisa deve incomodá-lo. Que no fundo eu o considero inferior, embora eu nunca tenha dito. Ele deve ter percebido pelo olhar que eu o considero uma criatura grosseira. Um selvagem. Se ele ao menos soubesse que eu não me abalo com as coisas porque estou desconectado da minha própria humanidade, talvez isso o ajudasse a não se sentir inferior por conta do meu domínio próprio. Ou talvez isso só virasse mais uma piada para ele. Só comigo ele faz essas coisas. Aos outros ele mostra uma máscara deprimente. Quer parecer controlado, mas ao menor sinal de contradição ele demonstra sua falta de domínio próprio. Talvez ele tenha inveja de mim. Talvez eu tenha inveja dele porque, afinal de contas, ele é humano. Eu queria ser humano, mas existir da maneira que ele existe parece indigno. Viver como um animal fora de controle.

-    Depois a gente fala disso, Isabela. Ta mesmo na hora de nos prepararmos pra sair. – falei com ela num tom brando. Tentando fugir do assunto.
-    Vamos falar disso mesmo. Não vai escapar.

Eu não sabia como explicar essas coisas pra ela. Essas fantasias, esses sonhos, essas intuições. Tudo um turbilhão louco na minha mente que não tinha explicação nem pra mim mesmo. Como eu poderia falar disso sem parecer louco até pra mim mesmo? Fui para o banheiro e tomei um banho. Agua quente. Não achei uma idéia genial sair daquele lugar tão rápido. Tinha tudo o que precisávamos. Mas no fundo eu queria ir embora. Nós estaríamos fazendo alguma coisa e eu poderia fugir dos questionários da Isabela.

-    Você tem medo do que vai descobrir, não? – disse Felipe.
-    Tu ta aí, cara?
-    É um banheiro grande. Dois mictórios. Não sabia que você queria privacidade.
-    Não. Não. Tranquilo, cara.
-    Eu também fiquei desesperado quando percebi intuitivamente que estava perto do abismo. Escolhi me aproximar e descobrir a realidade. Sou infeliz desde o dia em que acordei e descobri o vazio. Talvez seja melhor mesmo você fugir e ter uma vida normal.
-    Vida normal? Eu não sou capaz de ter isso. Eu nem sou humano.
-    Eu também queria acreditar nisso. O ser humano é tão desprezível. Mas olhe pra você mesmo. Você é humano.
-    Falo humano no sentido de poder me encaixar. De ter as emoções que são necessárias pra isso.
-    De um modo geral essas emoções são uma fraude. Quando você descobre isso, que tudo é uma fraude, aí você percebe que se encaixar nessa vivência presume mentir pra si mesmo. É o que dizem: Don’t worry. Be happy. Esse mundo merece essa praga que o destrói. Ou que já o destruiu há tempos.
-    Não. Acho que tem um jeito de me encaixar sem me tornar uma fraude. Sem ter que ter mascaras.
-    Falsas esperanças. Você é como eu. Um desajustado. Não vai se encaixar. O que vai fazer quando ela quiser saber quem você é? Vai mentir. Vai enganar ela?
-    Sei lá.
-    Melhor se apressar.

Ele saiu do banheiro e eu me abaixei no boxe. Sentei no chão e abracei as pernas. Não fazia idéia do que fazer. Tive um momento tão alegre no outro dia e agora toda a minha preocupação era perder aquela alegria. Na verdade a preocupação já tirou a alegria. Meu medo era o vazio. Talvez o vazio que Felipe citou. Viver uma vida sem sentido. A ausência de sentido ser a realidade. Acho que no meio da água que passava pelo meu rosto havia lágrimas.

-    Pecado tu não tira com água não, cara! – gritou o sargento.

Eu me enxuguei e saí do banheiro. Isabela arrumou minha roupa e deixou em cima da cama. Ela estava fora conversando com o Augusto. Me arrumei rápido e saí.

-    Tava colocando maquiagem? – perguntou Augusto.
-    Pó, cara. É foda. Com tudo isso de fim de mundo a gente fica sem batom.

Ele deu uma risada tímida. Eu arriscaria dizer que foi até forçada. Acho que eu não sou engraçado mesmo. Tanto faz, só quis ser amigável.

-    Parece que não vai caber todo mundo na camionete. Vamos fazer duas viagens como planejado, então o negócio é andar até o porto. Vamos eu, você, Isabela, José, Felipe e Rodrigo. O sargento vai dirigir e recarregar a camionete na segunda viagem.
-    Beleza.

Estávamos bem longe do cais. Imagino como deve ter sido difícil para José me carregar até a casa. Se bem que eu não faço idéia de onde eu estava quando apaguei. Talvez eu tenha corrido pra bem longe. Sei lá.
Para a camionete fazer apenas duas viagens, todos tivemos que carregar mochilas cheias. Isabela foi na frente com Augusto. De certa forma isso me aliviou. Embora eu quisesse estar perto dela, isso também me assustava. Loucura. Ficamos para trás eu José e Felipe. Não fui na frente também porque não queria ficar perto do Rodrigo. Ele não para de falar por um minuto. Faz perguntas estúpidas a troco de nada.

-    O tempo tá fechado, José. Dia feio. Acho que vai chover. – disse eu.
-    É. – respondeu ele.
-    Porque vamos sair com esse tempo?
-    Meu piloto não vai esperar pra sempre, garoto. Se eu não chegar lá logo os monstros podem invadir o aeroporto e aí ele terá que fugir.
-    Então porque não saímos ontem à noite?
-    Não é seguro andar no escuro enquanto Jumpers estão à solta por perto. Têm os sentidos agiçados. – disse Felipe.
-    É. – disse José.

O que aconteceu naquele momento foi muito rápido. O jumper caiu de uma árvore e rachou o crânio de José. Rodrigo foi o primeiro a perceber e voltou correndo. Só depois de alguns segundo que Augusto percebeu o que se passava. O jumper pegou a mochila de José e subiu numa arvore. Quando Rodrigo começou a atirar, o monstro olhou para mim e berrou. Em seguida fixou o olhar em Rodrigo. Ele fez a mesma coisa com Felipe.

-    Está nos invocando... – disse Felipe
-    Quê? – Perguntei.
-    Ele acha que somos como ele. Está certo. Eles são o que somos e nós somos o que eles são. Não somos humanos.

O monstro continuava berrando e rasgou a bolsa. Os pertencer de José caíram no chão. Olhei o corpo dele no chão. Cabeça esfolada. Bem na parte de trás.
O monstro pegou a esfera que estava na bolsa e a engoliu. Por um instante juro que ele sorriu. Bem antes de engolir a esfera.
Ele caiu da árvore e começou a se debater no chão. Tremeu por alguns intantes e lançou um berro mais alto do que os outros que lançava normalmente. Explodiu diante de nós. Nenhuma parte grande do seu corpo sobrou. Até s ossos de despedaçaram.
O ultimo grito atraiu mais dois mortos, que pararam diante de nós momento antes de Rodrigo matar os dois.

-    Atividade, porra! Os zumbis na frente de vocês e você ficam parados? Puta que pariu!

Ignoramos ele completamente. Isabela ficou perto de mim, mas continuou conversando com Augusto. Estavam discutindo sobre as origens disso tudo. Augusto sustentava que alguma empresa queria lucrar com isso e acabou dando errado. Meio clichê da nossa época. Isabela dizia que espíritos cientistas construíram isso de outra dimensão precisamente para a nossa destruição. Por mais que parecessem absurdas ambas as posições, não me meti no diálogo. Foi uma imensa perda de tempo, porque nenhum dos dois deu o braço à torcer. Ainda assim eles estavam entretidos. Talvez ele seja um namorado melhor pra ela do que eu. Isso não me impede de ter ciúme, embora eu não planeje manifestar nada disso.
Chegamos no barco e o sargento estava lá.

-    Cadê o magnata? – perguntou ele meio ofegante.
-    No meio do caminho. Ele já era. – respondeu Augusto.
-    Caralho. Ta foda essa vida. Num segundo tu ta vivo e no próximo você pode rodar. É estranho você conhecer a pessoa e conviver com ela pra vê-la morrer. Acho que seria melhor nem conhecer todas as pessoas que caminham conosco e acabam morrendo.
-    Caralho, sargento. Profundo em. – disse Rodrigo. – terminou aqui?
-    Terminei. Sobre isso mesmo que tenho que falar. Não estou me sentindo bem. Sei lá o que eu tenho, mas preciso descansar. Não vou agüentar a segunda viagem.
-    Tranqüilo, deixa comigo. – disse Rodrigo. – eu resolvo o problema.
-    Você foi mordido, arranhado ou teve ao menos uma gota de sangue infectado dentro de você? – perguntou Felipe
-    Não. – respondeu o sargento. – Acho que só to ficando velho.
-    Tinha que ser o viado pra ficar falando merda por aí, né? Não quer dar o seu cú não? – perguntou Rodrigo.
-    Pegou pesado, cara. – disse Augusto.
-    Peraí. Tu é gay, cara. – perguntei.
-    Eu já comi um cara. Falei isso na sua frente. Não ouviu? – disse ele.
-    Não.
-    Claro que não! Ele é idiota! – disse Rodrigo enquanto entrava na camionete. – ele não ouve nada e nem vê nada. Está sempre no fantástico mundo de Bob.
-    Pensei que você e aquela menina que estava contigo tinham alguma coisa. – comentei.
-    Eu queria comer ela. – disse ele.
-    Então como você é gay?
-    Eu só transei duas vezes na vida. Uma vez eu comi um viado e a outra eu comi uma puta.
-    Então você é bissexual.
-    Tanto faz.

Ele saiu e nós ficamos esperando no iate. Augusto se lembrou de pegar as chaves no corpo de José. Novamente Isabela e Augusto voltaram a debater sobre a origem da esfera. Dessa vez consultaram Felipe. Todos nós, parece, no fundo considerávamos ele a pessoa mais inteligente do grupo. Saí dos meus pensamentos para ouvi-lo responder.

-    Acho que os dois estão certo e equivocados ao mesmo tempo. Vajem só. Em primeiro lugar, nós não temos como comprovar nenhuma das hipóteses que vocês criaram. O fundamento delas nada mais é do que um reflexo do desejo que vocês têm de auto-afirmação. Vocês afirmam sua crença porque essa crença é o que você são. Essa discussão é filosoficamente absurda e nunca deveria ter começado.
-    Mas podemos tentar uma abordagem fenomenológica ao invés da metafísica, Felipe.
-    É. Eu fiz isso nas minhas investigações. Mas eu perdi meus registros.
-    Peraí. O Que é isso de abordagem fenomenológica? – perguntou Augusto.
-    É quando tentamos entender uma coisa sem usar o conhecimento prévio. Só observando a coisa em si e seu comportamento. – disse Isabela.
-    Ah. Que bobeira isso de usar palavra difícil. Pra mim era mais simples dizer que devemos olhar sem preconceitos. – disse ele.
-    Mas você estava criando uma hipótese infundada e baseada nos seus preconceitos. – disse Felipe calmamente. – mais uma vez quer se auto-afirmar porque se viu diminuído por não conhecer uma palavra.

Ficamos em silêncio. Parece que Felipe só prestava atenção nas informações e idéias que tornariam tudo um pouco mais desagradável. Era o objetivo dele, por algum motivo. Depois de alguns segundos de silêncio e de Augusto encher o peito pra falar e hesitar algumas vezes, quebrei o gelo.

-    Antes de Rodrigo matar o cientista na estrada ele me passou informações interessantes. Parece que essas esferas são fonte de energia. Elas extraem energia de toda a parte. Não consomem o organismo do infectado.
-    Ele nunca disse que ela não consome o organismo do infectado. – salientou Augusto.
-    É, mas eu observei isso. Eles ficam sempre com a mesma aparência e a mesma energia.
-    Esse seu cientista deveria ter sido mais ousado quando concebeu as possibilidades. – disse Felipe. – espero que não me matem por isso, mas eu vim a concluir que essa infecção possui efeito inteligente. O que quer que esteja infectar as pessoas não é um agente meramente biológico. Se fosse, ele não iria variar de forma tão irracional.
-    Que tem de irracional? Pra mim há um padrão bem claro. – disse Augusto.
-    O corpo das pessoas, quando infectado, continua apodrecendo. Parece que apenas os músculos e as cordas vocais permanecem intactos. Vejam só como o aspecto deles se torna asqueroso. Eles não possuem necessidade de se alimentar. Eu vi um deles arrancando o lábio de uma velha. Ele cuspiu. Só estava infectando ela. Eles percebem quando uma pessoa já está infectada e param de atacá-la, como que para protegê-la. As feridas param rapidamente de sangrar porque seja o que isso for, é capaz de coagular o sangue rapidamente. A pessoa morre basicamente porque todo o seu corpo fica sem circulação de sangue. Não sei o que você entende por biologia, mas isso pra mim é irracional. Isso é fruto de inteligência e não de um agente viral.
-    Mas pensamento é racional. Se eles pensam, então isso tudo é racional. – retrucou Augusto receoso.
-    Isso é irracional com a abordagem comum da biologia. Não quis dizer que o processo é em si destituído de razão, mas que ele fere o que entendemos por causa e efeito. É como se tivesse de fato uma entidade inteligente realizando isso.
-    E os jumpers? – perguntei.
-    Eles são meu objeto de estudo. São muito parecidos com os seres humanos em vários aspectos. Eles possuem poder de comando e seus berros atraem todos os infectados que estão por perto. Por mais que se pense que esses infectados são completamente impulsivos, a verdade é que não são. Eles são iguais a nós. Têm um impulso interno e pensam que estarão saciadas quando morderem as pessoas. Mas eles mordem e percebem que isso não os ajudou, então abandonam a pessoa e vão atrás de outra. Quando o jumper chama, eles correm desesperados. Pensam que o jumper os saciará, embora as vezes essas criaturas até matem os infectados normais.
-    Que? Jumpers matam infectados? – perguntei.
-    Sim. eles ficam entediados e começam a matar infectados com cotoveladas.
-    Caralho... Mas cara, não são assim tão parecidos conosco. Quero dizer, acho que é um exagero dizer que somos iguais aos infectados só porque eles correm desesperados para buscar o que lhes falta no lugar errado.
-    Você não viu o que aquele jumper fez lá trás? – disse Felipe.
-    Ele se matou? Eu não entendi bem qual foi a dele. – Disse Augusto.
-    Claro que não! Tudo agora se encaixa! Vocês disseram que a esfera é a fonte de energia, certo?
-    É
-    Pois temos que acrescentar mais uma função hipotética a essa esfera, que é a de manifestar essa inteligência rudimentar. Ela se manifesta tanto ao lidar com o organismo, se adaptando a diferentes tipos de feridas, quanto no condicionamento do comportamento do infectado.
-    Certo. Aceito isso pra você poder continuar. – disse eu.
-    Isso que dizer que o jumper queria mais inteligência ou mais energia ao comer aquela esfera.
-    Parece razoável. Mas ainda parece uma atitude inteligente demais. Esses monstros podem ter reflexos rápidos, mas não falam e não parecem ter uma inteligência tão articulada. Afinal, a esfera explodiu o corpo dele. Como você explica isso?
-    Provavelmente foi poder demais pra ele. As esferas entraram em conflito. – respondeu ele.
-    Peraí. Ta dizendo que essas esferas brigaram dentro do corpo do monstro e isso destruiu ele?
-    Por aí.
-    Isso é doideira, cara. Não tem sentido nenhum.
-    Tem que expandir horizontes pra poder conceber isso. Abordagem fenomenológica. Ele parecia um homem lutando para conseguir mais poder. Eles são exatamente iguais a nós. Só querem satisfazer desejos que são fruto de seus instintos básicos e para isso usam a inteligência.
-    Mas não é isso que fazemos. – retrucou Isabela. – nós temos amor, amizade, caridade. Não somos só maquinas de realizar desejos.

Augusto disparou alguns tiros. O grito mais alto do jumper atraiu três infectados do outro lado da ilha. Logo em seguida Rodrigo chegou.

-    Porra ninguém se ofereceu pra ajudar, em! puta merda! Só eu que faço tudo nessa porra. – reclamou ele.

Augusto e eu descemos e começamos a colocar os galões de combustível dentro do iate. Não se era gasolina ou Diesel.
Quando acabamos começou a chover, mas sabíamos que precisávamos ir rápido. O iate era gigante e não iria virar com uma tempestade. Afinal, nem estava chovendo tanto e ventava pouco.

-    Eu ainda não engoli isso de que nós somos como eles. – disse eu.
-    Diga isso ao jumper. Não percebeu que ele estava tentando ordenar que nós atacássemos o ... Qual o nome dele? O cara que chegou atirando. Enfim, ele olhou para nós e reconheceu infectados.
-    Mas geralmente eles só atacam.
-     Pra infectar, talvez. Mas esse percebeu que não precisa nos infectar. Não. Não estamos vivos e nem somos humanos.
-    Você tem merda na cabeça, viado. Bora sair logo que esse papo ta muito gay. – disse Rodrigo.

É verdade que Rodrigo é ignorante e patético, mas não deixa de ter razão. Precisávamos mesmo sair. De qualquer maneira, todo aquele palavreado não nos levaria a lugar algum.
Andei pelo Iate com Isabela. Na verdade eu nem acreditava que aquilo devia ser chamado de iate. Tinha até cozinha!
Todos nós tivemos acesso a quartos. Eu e Isabela ficamos num quarto com cama de casal. Se por um lado me assustava que, estando sozinho com ela, fatalmente ela descobriria que eu não tenho alma, por outro me agradava. Por mais uns instantes eu me faria passar por humano. Por mais uns instantes não estaria só. Mais um pouco de alegria.
Ela nunca tinha pilotado um iate como esse. Parece que ele precisaria de várias pessoas realizando várias funções. Por sorte ele estava carregado com mantimentos e combustível, além de estar bem limpo. O problema, no entanto, era que não podíamos ir rápido demais. O preço a ser pago por todo aquele luxo era a lentidão. Havia diversos dispositivos estranhos ali, e Augusto decidiu testá-los. Ele possuía grande facilidade para lidar com máquinas e logo aprendeu como ligar e comandar diversos dos programas do iate. Era todo computadorizado. Ele descobriu que alguém devera ficar numa espécie de sala de controle onde tudo no barco era monitorado. Todos nos surpreendemos quando ele achou um pequeno submarino instalado lá.

-    Ou aquele velho era idiota e gostava de jogar dinheiro no lixo ou ele estava se praparando. Ainda acham absurda minha hipótese de que ele estava envolvido? – disse Felipe num tom sarcástico.
-    Ele está morto, Felipe. Deixa isso pra lá – disse Isabela.

Naquele ponto, Augusto e Isabela eram valiosos e nós, os outros, não possuíamos conhecimento útil. Acabamos seguindo as orientações do sargento e organizando o barco. Todos os suprimentos foram organizados, fizemos uma lista de tudo o que tínhamos no estoque e armazenamos num computador que ficava numa sala especial. A internet estava funcionando nesse computador, mas apenas alguns poucos serviços estavam no ar. Google e os programas armazenados em seus servidores ainda estavam no ar. A primeira coisa que fiz foi entrar no YouTube. Não encontrei muito vídeos novos. Alguém entrou em todos os vídeos que gravaram o desastre e os comentou. Estava só e pedia ajuda. Um americano. Eram más notícias.
Começou a chover e a internet caiu, mas antes consegui acessar meu e-mail. Várias mensagens de alerta, outras de socorro. Uma pena que, por causa da distância, tudo se tornou impraticável. Era até estranho ver gente pedindo ajuda a todos os contatos de e-mail sendo que alguns moravam muito longe e não davam a mínima. Nenhum familiar meu escreveu, e aquilo me deixou perturbado. Um sinal de humanidade, talvez. Preocupação.
Rodrigo descobriu que as máquinas eram cheias de jogos. Abrimos um jogo, eu ele e o sargento. Felipe saiu e ficou lendo um livro.
Ficamos jogando um jogo que nunca vi. Nós três num campo de batalha, passando de fase. Um jogo cooperativo. Por um tempo eu me distraí com a gritaria que aquela sala virou. Sargento ficou animado e começou a nos comandar no jogo. As máquinas eram bem inteligentes. Acho que de alguma maneira ele estava usando aquele jogo para reviver sua profissão, que provavelmente nunca mais será a mesma. Hoje nós somos fugitivos, talvez no futuro sejamos caçadores, mas a instituição do exercito acabou. Eu vejo nos olhos dele que ele gostava do trabalho e que ele fazia falta.
Fiquei cansado do jogo e saí. Colocaram um bot no meu lugar. Parece que ele era melhor do que eu. Só não conseguiam gritar com ele pra dar ordens, mas logo perceberam que havia comandos programados para isso.
Lá fora eu vi Felipe sentado na ponta do iate. Deixou o livro de lado e ficou abraçado nas barras de ferro com os pés pra fora. Parecia refletir profundamente sobre alguma coisa. Preferi não tentar imaginar, porque os pensamentos dele me deprimiam.
Fui até a cabine e vi Isabela. Estava conversando co Augusto por um rádio. Ele estava explicando pra ela o que descobriu de dados ali sobre as peculiaridades do barco. Ela parecia empolgada. Estávamos em alto mar. Não era possível ver terra em lado algum. Sensação estranha.

-    Tá aí, Roberto? Porque não entrou?
-    Eu tava olhando pro mar. Acham que vai ter tempestade?
-    Augusto disse que a aparelhagem indica que isso não vai ser nada de mais. Só uma chuva fraca e depois é sol. Aliás, mais pro sul nem ta chovendo agora. Talvez daqui a pouco pare de chover.
-    Isabela, na escuta?
-    Fala.
-    Do seu lado direito tem um computador. Liga ele. É um piloto automático.
Não me lembro de ver Isabela tão empolgada assim antes. Nem de um computador ligando tão rápido.

-    Bem vindo ao sistema de rota automático. Entre com as coordenadas do destino.

Era uma voz de mulher na máquina. Até bonita.

-    Isabela. Vê com o sargento o nosso destino. Ele tem anotado. Aliás, vê também se tem em destinos prévios algum lugar no sul. Daí a gente já pega o caminho mais ou menos e depois colocamos as coordenadas certas.
-    Chama lá o sargento, Roberto? – disse Isabela.

Eu saí estupefato com a cooperação natural deles. Enquanto eles funcionam como um, eu saí correndo feito louco e deixei ela pra trás. Se eu não fosse tão egoísta, provavelmente iria preferir que ela ficasse com ele ao invés de ficar comigo. Mas eu sou patético o bastante para continuar desejando aquilo que não deveria ser meu em primeiro lugar.

-    Mata, caralho! Mata aquele ali no canto! Vai porra! Não, não! Volta. Ó a metralhadora ali!

Entrei na sala dos computadores e chamei o sargento. Apertei f5 no navegador da maquina que eu estava usando pra ver se a internet havia voltado.

-    Fala Roberto...! disse o sargento impaciente.
-    Dá aí as coordenadas do nosso destino. Isabela vai colocar no piloto automático.
-    Caralho! Quero morar nessa porra de iate. Pra que Estados Unidos? Isso aqui é o paraíso! – disse Rodrigo.
-    Quarto item da segunda fileira. No boldo as frente da minha mochila. – disse o sargento.

Ele voltou a jogar e eu olhei para a tela. Um e-mail novo. No campo que indica quem me enviou não havia nada.

Assunto: Brother
Mensagem: what is taking you so long?

Provavelmente não havia o e-mail do remetente por algum erro. Talvez a mensagem nem fosse pra mim. Tanto faz.
Fui para a cabine de comando e Isabela estava rindo. Augusto estava contando alguma piada pelo rádio. Aquilo me irritou, mas eu não deixei me dominar. Entreguei as coordenadas para Isabela e ela colocou no computador. A rota foi traçada imediatamente e com base nos dados que Augusto coletou sobre o clima. Não havia tempestades por perto.

-    Você ta estranho, Roberto. Tudo bem contigo? – perguntou Isabela.
-    Ta sim. Só to um pouco cansado porque tive que carregar peso e não to acostumado.
-    Ta bem. Descansa um pouco então. Eu vou preparar mais algumas coisas aqui com o Augusto e logo logo te encontro no quarto.

Quando eu saí ela começou a gargalhar de novo. Augusto estava de bom humor.
Felipe pegou no sono. Ficou deitado na ponta do navio. Quando começou a chover ele saiu de lá e foi para o quarto. Deitei na cama. Tinha um espelho no teto. Perfeitamente limpo. Fechei os olhos porque não queria olhar pra mim mesmo. Não foi um dia bom. Muito ódio contra mim mesmo.

-    Oi Roberto. Dormiu não? – perguntou Isabela.
-    Não. Eu só to estranho.

Ela não falou mais anda. Só deitou comigo e me abraçou. Foi como da primeira vez. Eu me acostumei com o calor dela, me senti confortável. Acabei pegando no sono. Augusto programou o barco para avisar no caso de qualquer eventualidade e dormiu ali mesmo perto da sala de controle. Os olhos dele brilhavam quando ele trabalhava ali. Era como se aquilo fosse o que ele queria fazer com a vida. E ele era mesmo bom. Não tinha conhecimento prévio, mas aprendeu muita coisa rapidamente.

Eu e uma garota estávamos correndo atrás de um velho. Era o pai dela. Lembro dela de um filme e do velho de uma reportagem de TV. O velho entrou no ônibus e ele saiu. Correi atrás do ônibus, mas não o alcancei. Quando voltei, ela estava com um garoto. Namorado dela. Olhei ao redor e ele desapareceu. Agora era eu o namorado dela. Outro ônibus parou e entramos. O garoto reapareceu. Pediu a ela para pagar a passagem, porque ele não tinha dinheiro. Isso a incomodou visivelmente. Paguei minha passagem e me sentei no banco atrás do deles. Era um ônibus de viagem. De repente me senti como um fantasma. O namorado dormiu e eu comecei a falar algo com a menina. Estávamos ficando próximos. Toquei o braço dela. Ela sorriu.

Acordei no meio da madrugada. Fomos dormir cedo demais. Não quis levantar, porque Isabela estava em cima de mim. Os olhos dela estavam se movendo. Não sei dizer se isso significa que ela está sonhando. Imagino o que ela está sonhando. Há quem diga que a intuição é forte nos sonhos. Que as nossas percepções subliminares se tornam previsões e visões acuradas da realidade. Talvez ela estivesse sonhando com o que eu realmente sou. Não. A expressão facial dela estava muito tranqüila. Aliás, na ausência da minha humanidade eu nem sei dizer ao certo quem eu sou. Só sei dizer o que eu sou. As horas de passaram, o sol começou a iluminar o ambiente. Como sempre, o sol me trouxe o sono. Sou uma criatura da noite. Mas o sono não durou muito. Isabela sempre acorda cedo. É uma criatura do dia. Da luz.

-    Levanta, Roberto. Já amanheceu. – disse ela com seu sorriso habitual.
-    Como você consegue gostar da manhã?
-    Como você consegue não gostar?

Levantei meio lento. Escovei os dentes, lavei o rosto. Coisas comuns. Tomamos café da manhã tranquilamente. Na verdade, num momento como esse nós acabamos esquecendo da tragédia do mundo. Acontece às vezes. Conversaram durante o café mas não prestei atenção. Estava muito lento. Depois do café tomei um banho. Um dia normal, até mesmo entediante. Eu me sentia como se estivesse faltando com alguma tarefa. Detesto quando me sinto assim. Passei quase o dia inteiro jogando nos computadores. Dessas vez outro jogo. Um de estratégia. Jogamos eu, Felipe, Augusto e o sargento. Rodrigo continuou no outro e Isabela nem sei o que ficou fazendo. Quase não falei com ela. Talvez seja cedo para dizer, mas acho que já estávamos ficando distantes.
Marasma, marasmo. Augusto fez aliança com o sargento e Felipe não atacava ninguém. Pegava recursos onde ninguém procurava e guardava enquanto que eu me esforçava para manter os dois afastados. Perceberam que Felipe estava bem defendido, então atacaram só a mim. Depois de duas horas lutando, acabei sendo destruído. Saí da sala de computadores muito aborrecido. Não só me irritei por ter que enfrentar os dois sozinho: na verdade o que mais me aborrecia é que parecia que eu estava jogando meu tempo no lixo...
Como se, nessa situação existesse algo realmente útil a se fazer além de jogar e esperar o tempo passar.
Isabela estava pegando um bronzeado. Saiu do sol quando me viu.

-    A gente chega amanhã de manhã. – disse ela rápido.
-    Eita. Leu minha mente?
-    Não. Eu estava aqui listando todos os assuntos casuais possíveis e só te sobrou esse.
-    Hehehehehe
-    Não é pra rir. A gente precisa conversar e você fica fugindo de mim.
-    Desculpa. Sobre o que você quer conversar?
-    Você sabe.

Fodeu...

-    Esse anel no seu dedo. Eu acho que ele é amaldiçoado.
-    Você acredita nessas coisas.
-    Não. Mas eu vi como esse anel te mudou.
-    Esse anel é um símbolo. Ele representa uma parte de mim.
-    Eu sei.
-    Sabe? – perguntei perplexo.
-    Claro. Você me falou e eu mesma observei. Mas você diz que ele é uma parte e só vive o que ele representa. Ele é uma parte de você, mas é tudo o que você parece conhecer.
-    É... na verdade eu gosto de acreditar que é só uma parte.
-    Mas é. É só uma parte sim.
-    Como você sabe?
-    Eu só sei.
-    Olha. Vou ser sincero contigo.
-    Não foi até agora?
-    Fui sim. eu só nunca toquei no assunto.
-    Ah. Então me fala.
-    Acho que você me vê por muito mais do que eu realmente sou. Felipe está certo. Eu não tenho espírito. E o pior de tudo é que não me faz falta. Só sinto que eu não deveria ser assim, e as vezes sinto que não estou fazendo o que deveria. Mas geralmente eu vivo normalmente sem qualquer tipo de humanidade. Tudo o que as pessoas vivem normalmente nunca teve nenhum significado pra mim. E eu sinto um terrível mal dentro de mim, que controlo com um código de ética. Sinto que eu sou um monstro, não uma pessoa. Você estava num momento muito delicado quando nos conhecemos, mas agora já esta poderosa. Agora, aliás, já se tornou meu porto seguro. Acho que você já não precisa de mim, então por isso abri o jogo. Essa pessoa que você gosta não existe.
-    É por isso que você estava evitando conversas?
-    É...
-    Ah, Roberto. Que bobagem!
-    Que? Não é bobagem não.
-    Escuta. Você veio com todo esse discurso, que pareceu até decorado e demonstrou que não sabe nada de si mesmo.
-    Como assim?
-    Não lembra no mercado. Você quase não ficava longe de mim.
-    É. Eu me sinto mais humano perto de você. Mas não é justo ficar te sugando. Não posso sustentar uma imagem falsa pro meu bem estar.
-    Sabe como foi que aconteceu quando você tava bêbado?
-    Não. Só lembro de algumas pouco nítidas. Nada que faça algum sentido.
-    Eu peguei um facão e ia matar o soldado Costa. Daí você apareceu e começou a falar. O que você falou mudou minha vida pra sempre.
-    Falei o que?
-    Perguntou se eu queria conversar.
-    É?
-    Aham. Daí nós ficamos conversando e eu te contei sobre a minha vida. De repente do nada você disse que eu era uma deusa e que deveria me preparar. Disse que eu estava sendo convocada.
-    E você? Disse o que?
-    Aquilo me tocou profundamente. Normalmente eu só iria rir, mas aquilo por algum motivo que não sei bem me afetou. Daí eu te agarrei e o resto acho que já te contaram.
-    No dia seguinte você ainda estava um pouco mal na auto-estima. Achava que eu era um anjo.
-    Ainda acho. Você me trouxe a mensagem que eu precisava. Naquela noite eu sonhei com uma velha sentada na copa de uma arvore. Era eu. Num lampejo eu soube tudo o que eu tinha que viver. De uma hora pra outra eu soube. Tudo graças a você.
-    Olha. Que bom que te ajudou, mas provavelmente eu só falei um monte de merda porque estava bêbado e dessas merda você tirou ouro.
-    Não. Não tinha como. Isso veio de você.
-    É que eu não me imagino falando essas coisas.
-    Mas você sonha com essas coisas. Você as vezes fala. Teve uma vez que ficou pedindo desculpas porque não conseguia chegar ao Olímpo.
-    É? Não me lembro de ter sonhado isso.
-    Pois é. Você pediu desculpa e eu achei que tava acordado. Perguntei por que e você disse isso.
-    Eu tenho esses sonhos loucos mesmo. De um modo geral eu vejo eles como sendo orientação da minha mente. Na maioria das vezes eu sonho que estou no inferno conversando com Mefistófeles. Tem também Gaia e Daemon, mas eles não me aprovam. É que eu vou muito no inferno.
-    Mas você foi expulso de lá.
-    Como sabe?
-    Esses dias você ficou falando isso. Trancaram os portões do inferno. Tenho que salvar meu irmão.
-    Pois é. Eu vejo um velho e chamo ele de irmão nos sonhos, mas não faço idéia de quem ele seja. Nunca vi. Enfim. Eu entendo se você quiser ficar com o Augusto.

Ela me deu um tapa na cara. Muito rápido, nem vi chegando.

-    Para com essas asneiras! Eu gosto de você. Não é seu potencial. Eu sei que você é gentil e que gosta muito de mim. Você sempre ouve quando quero conversar e sempre me aquece. Sabe que eu durmo fácil porque fico contigo? Me sinto segura.
-    Eu me sinto bem com sua presença.
-    Sei. Sei. Faz você se sentir bem. Como se fosse humano. Vou te contar um segredo. Coisa que a velha me contou.
-    Conta.
-    Nós temos contato com os outros muitas vezes por isso. Porque os outros possuem algo que é nosso e não sabemos ou admitimos. Por algum motivo seu lado mais humano não despertou pra sua consciência, então você pensa que essas qualidades estão só em mim. Mas a verdade não é essa. Você é humano sim. Vai ver só com o tempo.
-    Eu já li algo parecido com isso em algum lugar. Quero muito que você esteja certa. É a missão que Gaia me deu nos sonhos. Descobrir minha humanidade. Minha capacidade de conexão.
-    Vai descobrir. Só tem que deixar a vida correr sem ficar querendo controlar tudo.

Fomos pra piscina e ficamos lá. Falamos de banalidades. Felipe saiu da sala de jogos com Augusto e o sargento. Estavam reclamando que ele não joga direito. Não conseguiram quebrar as defesas dele. Desistiram e começaram a guerrear entre si. Perderam muitos recursos e depois ele cercou as cidades deles com torres. Não sei muitos detalhes, mas sei que ele foi fechando eles no canto e os deixou sem recursos. Mas não os destruiu. O jogo só acabou porque eles não quiseram mais continuar.
O dia passou e eu fiquei mais tranqüilo. Minha sensação de não estar fazendo o que devia ser feito passou. Apesar disso, nós fizemos o que o ambiente sugeria: nada.
A noite estava bem estrelada. Lua quase cheia. Dava pra ver no mar. Amo a noite por causa da lua. Tão linda...
Se pudesse, seria sempre noite e sempre lua cheia. O sol me incomoda. Luz demais, calos demais. Ainda por cima não da nem pra olhar pra ele.
Fiquei no topo do iate com Isabela. Ficamos olhando pra lua. Parecia que ela andava junto com o barco.
De repente ouvimos um barulho diferente. O barco começou a fazer mais barulho. Depois voltou ao normal. Isabela achou melhor vermos se deu defeito.
Descemos até a sala de controle e encontramos Augusto concentrado. Parecia estar lendo ou tentando ler uma série de códigos na tela. Quando nos viu começou a falar. Se agitou.

-    Achei uma forma de acelerar o barco! Na velocidade máxima nós chegaremos no destino amanhã de manhã!
-    Tem certeza? – perguntou Isabela.
-    Tenho. Só vai fazer um pouco de barulho na parte externa do barco. Talvez alguma vibração aqui dentro.
-    Como conseguiu isso? – perguntei.
-    Descobri um motor auxiliar. Ativado geralmente em casos de emergência com o principal. Posso ativar esse motor como auxílio. Mas lendo esses código eu acho que posso fazer outra coisa com essa maquina. Vou testar.
-    O que?
-    Vai ver.

Ele andou com a cadeira para outra tela. Acionou o submarino com um comando de voz. O mecanismo desceu o submarino e o preparou para ser solto.

-    Vejam só. O submarino pode ser controlado remotamente. Se eu ligar ele com força total ele rompe o mecanismo de acoplamento. Mas em velocidade média não. Desativei o desacoplamento automático. Agora ele vai acelerar o iate funcionando como se fosse uma hélice adicional.
-    Caralho, cara! Não é possível que você sabe tanto. Onde aprendeu essas coisas?
-    Acho que já posso contar. Agora não faz mais diferença. Eu era capitão de comunicações do exercito. Eles mataram todos os militares com patente acima de tenente. Me identifiquei como soldado pra sobreviver.
-    Quem matou?
-    Sei lá. Percebi que os corpos baleados pelas ruas eram de oficiais. Daí me vesti com o uniforme de um soldado. Eles nem tentaram me matar. Suspeito que o sargento Silva não seja um sargento mesmo. Deve ter feito a mesma coisa que eu.
-    Caralho. Porque eles fariam uma coisa dessas?
-    Voz de comando. Você mira na cabeça que o corpo cai. Os soldados sem comandantes se dispersaram e os infectados deram cabo da maioria.
-    Caralho. Acho que estamos indo pro buraco nisso de ir pro estados unidos.
-    Pois é. Eu só to aproveitando a viagem no máximo possível. Brincando com essas gracinhas, matando uns zumbis. Espero que possamos sobreviver por lá.

Isabela ficou em silêncio. Acho que por alguns momentos ela esqueceu de que quase todos os que passaram pelo caminho dela queriam matá-la. Infectados e humanos. Se é que podem ser chamados assim.

-    Então beleza. Quer ir lá pro topo de novo, Isa?
-    Ah não. Quero deitar já. Se vamos chegar amanhã de manhã, é melhor descansarmos.
-    Ta bem. Vai dormir não, Augusto?
-    Vou, vou sim. Só to terminando algumas coisas aqui pra não ter que acordar no meio da noite.
-    Tu quase não saiu daqui, cara. Devia pegar um pouco de ar puro.
-    Nah. To tranqüilo. Amanhã é ar puro e possivelmente tiroteio.
-    Espero que não. – disse Isabela.
-    Que não? Então qual é a graça de o mundo ser invadido por mortos-vivos?

Ela não respondeu. Saímos. Despedimos-nos com olhares. Abracei Isabela enquanto andávamos pelos corredores em direção ao nosso quarto. Ela segurou minha mão.
Entramos e deitamos. Na mesma posição de sempre. Beijei a testa dela e acabei pegando no sono rápido.
Rodrigo entrou no quarto com uma garrafa de vodka na mão. Completamente bêbado.

-    Caralho! Corre aqui. Vocês têm que ver isso! – disse ele aos berros e rindo.
-    Porra, cara. A gente chega no porto amanhã. Vai dormir! – respondi aborrecido.
-    Não, não. O Felipe ta chapadão aqui. Aloprou, o maluco! – respondeu ele. – peraí. Chegar amanhã?
-    É.
-    Porque tu não avisou?
-    Eu soube ainda há pouco.

Ele caiu no quarto de cara no chão. Apagou.

-    Fica aí dormindo, Isa. Vou carregar ele daqui e avisar aos outros. Tudo bem?
-    Ta...
-   
Ela me substituiu por um travesseiro tão naturalmente que me senti inútil. Arrastei Rodrigo pelo corredor até que ele acordou. Larguei a perna dele e ele sentou. Com meu apoio ele se levantou e me levou até o bar. Eu nunca havia entrado ali.

-    Tomá no cu, rapá. Tu é militar e perdeu. Burro pra caralho. – gritou Felipe
-    Hahahahahaha! Tu fez massete. Só pode! – Respondeu o sargento.
-    O truque é simples: você escolhe um oponente idiota e joga contra ele.
-    Ah, vai à merda, seu bebum do caralho. Você é viciado.
-    Eu sou uma maquina de calcular. Sempre fui bom nisso. Eu calculei as variáveis do jogo.
-    Diz aí. Porque que tu é viado.
-    Que viado o que. Eu não sou humano, cara.
-    Hahahahahah! É de marte.
-    Não seu animal. Eu só tenho corpo humano, mas sou um espécime defeituoso.
-    Como assim?
-    Porra. Eu queria testar. Daí eu comi o puta. Foi uma merda. Daí eu comi um viado e também foi uma merda. Eu preferia nunca ter comido nenhum dos dois. Escolhi viver em ascese.
-    Que porra é essa.

Ele começou a falar alguma coisa impossível de entender. O sargento percebeu nossa presença e também começou a falar coisas incompreensíveis.

-    Só vim avisar que amanhã de manhã chegaremos no nosso destino. Augusto arrumou um jeito de acelerar o iate.
-    Aquela porra não é soldado nem fodendo. – disse o sargento.
-    Vocês são todos um bando de filho da puta! Tomá no cu. – disse Felipe.
-    Você também. – respondeu o sargento.
-    Claro! Eu também. Sou um grande dum filho da puta.

Felipe caiu no chão.

-    Esses moleques não sabem beber. Mocinhas do caralho. – disse o sargento.

Peguei uma dose de vodka cheio até a metade e virei. Carregamos os dois para as camas. Felipe vomitou o corredor quase todo. Rodrigo conseguiu chegar no banheiro da suíte e vomitar no vaso. Demos bastante água pra eles e colocamos na cama sem banho. Eu é que não iria dar banho e marmanjo bêbado.
Voltei pro quarto e Isabela tinha largado o travesseiro. Estava encolhida como um feto. Deitei e ela se acomodou na nossa posição sem nem acordar. Eu me senti um herói. Dormi. Dessa vez sem interrupções.

Recebi uma carta do inferno. Selada com a pele da testa de Mefistófeles.

“Encontrei o seu substituto. Não sei o que sentir a respeito disso. Não sei o que sinto, e se, depois de tudo isso, se ainda sinto alguma coisa. Talvez eu encontre um substituto para mim mesmo.”

Fui para a beira da praia onde eu morava. Precisava de roupas para chegar até minha casa, mas alguém as roubou de mim. Alguém começou a assoprar no meu ouvido. Identifiquei nesses assopros o ritmo de uma música do Linkin Park. O nome dela é Points of authority, mas por algum motivo, no sonho, eu a identifiquei como A place for my head.

-    Roberto. Ta na hora. – Isabela disse no meu ouvido.

Porque ela falou no meu ouvido eu ouvi o som do ar saindo da boca dela. Fiquei aborrecido, porque no sonho havia alguém me incomodando com isso. Felizmente a primeira imagem que vi foi a dela. Isso me deu um vigor que nunca senti. Uma vontade de levantar pela manhã que não me lembro de algum dia ter sentido. Aliás, nessas circunstâncias tudo se complica. Estávamos prestes a sair atrás de um avião que pode já ter partido no ultimo local de resistência. Deve haver milhares, senão milhões de infectados nessa área. É um efeito em cadeia. Para cada tiro disparado, mais cinco surgem do nada. Se eles resistiram aqui por semanas, então provavelmente atraíram uma multidão.

-    Que horas são?
-    Onze da manhã. Esperamos um pouco em alto mar porque os bebuns estão de ressaca.
-    Não podemos esperar mais.
-    Eu sei. Só demos algumas horas pra eles dormirem.

Levantamos e fomos até a mesa. Um ambiente um tanto peculiar. Augusto reclamando da irresponsabilidade dos outros. O sargento relativamente bem. Felipe totalmente bem, como se nem tivesse bebido. Se bem que o totalmente bem dele não é lá tão bem. Rodrigo não estava na mesa.

-    Seus animais. Porra! Eu dando duro pra salvar a gente e você atrapalhando tudo! Merda!

Augusto continuou reclamando enquanto comíamos. Depois que todos estávamos satisfeitos Rodrigo entrou. Reclamou da dor de cabeça e comeu tudo o que sobrou. Apoiou o braço na mesa e dormiu assim que terminou.

-    Não temos tempo para descanso. Se hidratem e vamos sair. – disse Isabela.
-    Eu deixei tudo organizado ontem. – disse o sargento. Ta tudo preparado. Não temos carro e não sabemos quantos infectados vamos encontrar. Então é melhor não carregarmos muita coisa. Só algumas barras de cereal e água. O peso das armas e da munição já vai ser grande o bastante. Isabela vai com duas pistolas pra aliviar o peso. O resto leva dois Ak cada um e o máximo de munição possível.
-    Beleza. O porto já foi avistado e o aeroporto fica a um quilômetro dele. A vegetação e o terreno não me permitiram verificar se ainda há algum avião lá. – disse Augusto
-    Vamos ter que tentar a sorte.

Rodrigo e o sargento tomaram uma pílula e energéticos. Pareciam abatidos pela ressaca, mas não fraquejaram. Com tudo preparado, o barco começou a se aproximar do porto. Minha barriga começou a gelar. Minha mão ficou suada. Isabela me abraçou um pouco e depois pegou as pistolas. Também estava muito nervosa. Todos estávamos.
O porto foi projetado especialmente para aquele iate. Ele ancorou exatamente no local mais fácil de descermos. Havia uma guarida ali. Sangue seco no chão. Isso não era um bom sinal. Seguimos pela rua que levava até o aeroporto. Cheia de curvas. Havia dezenas de corpos mutilado e fuzilado por ali. Estavam podres e fediam muito. O local estava refleto de urubus que nos ignoraram enquanto passávamos. Felipe parou diante de um dos urubus e se abaixou. Olhou nos olhos do animal, que o fitou curioso. Ele sorriu e continuamos andando.

-    Esse cara aí é meio piroca, em. Doidão. – comentou Rodrigo.

Ninguém respondeu. Continuamos até a entrada do aeroporto. Não estava trancada, mas não estava aberta ou mesmo danificada. Era uma grade alta. Continha duas placas. Uma avisando que era uma cerca eletrificada e outra para não ultrapassarmos, pois era propriedade privada. Rodrigo não leu a placa e meteu a mão da cerca. Sorte que não estava energizada. Entramos e o aeroporto estava deserto. Só havia um avião num canto. Constatamos que era um avião fora de funcionamento. O pânico começou a tomar conta de mim quando ouvi um grito de jumper distante. Fora por outra estrada, estávamos cercados por floresta. Não havia como saber de onde eles viriam. Ou se viriam. Talvez o silêncio os mantivesse longe. Subimos na torre de comando para ver se havia algum outro avião ou um abrigo por perto. Para a nossa surpresa e desespero, tudo em volta estava destruído ou era mata fechada. Tropecei e caí em cima de um equipamento. Uma sirene se acionou e tentamos de todos os jeitos parar o barulho. Augusto descobriu que era um alarme e pedia uma senha de quatro dígitos. Tentou a todo o custo acertar a senha. Conseguiu depois de dez minutos tentando. Meus ouvidos ficaram com um zunido por causa do volume do barulho.
Ouvi um jumper próximo. Lentamente começaram a se acumular infectados em volta de todo o aeroporto. Por todos os lados. Trancamos o portão por onde entramos e a outra entrada. Augusto conseguiu ativar um gerador que energizou as cercas, mas os monstros não desistiram de se jogar contra elas. Às vezes eles ficavam presos tremendo. Também eram lançados longe com freqüência. Quebraram o portão por onde entramos e tivemos que atirar. O barulho atraiu mais mortos. Estávamos completamente cercados sem nenhum lugar para correr.

-    Esse é o fim. – disse Felipe. – estamos mortos. Finalmente.

Não tinha como discordar. Um jumper pulou a cerca, mas conseguimos derrubá-lo. Ficamos próximos e formamos um circulo. Atirávamos para todos os lados. Não tinha como fugir de volta para o barco. Felipe correu para a entrada de onde viemos e parou os monstros. O fitavam espantados, como se ele fosse perigoso. Nunca vi os monstros com aquela cara. Ele ficou apoiando num joelho com as mãos para frente. Não tirava os olhos dos monstros. Eles não se moviam. Um final feliz?

1 comentários:

Duan Conrado Castro disse...

revisão ortográfica

mas não é anda pessoal.
Como eu poderia falar disso sem parecer louco até pra mim mesmo.
Quando você descobre isso, que tudo é uma fraude.[vírgula] Aí você percebe que se encaixar nessa vivência presume mentir pra si mesmo.
Ou que já o destruiu a [há] tempos.
perguntou augusto.
O tempo ta[á] fechado,
Está no[s] invocando... – disse Felipe
- Que[ê]? Perguntei.
Talvez ele seja um namorado melhor pra ela do que [eu].
Isabela e augusto voltaram a debater
e de augusto
pessoas na[ão] é um agente meramente
Não não estamos vivos e nem somos humanos.
Alguém entrou em todos os vídeos de gravaram o desastre e comentou.
Pra que estados unidos?
eu nem sei dizer ao certo quem eu sou. Só sei dizer o que eu [não] sou.
- Pois é. Eu vejo um velho e chamo ele de irmão nos sonhos, mas não faço idéia de quem ele seja. Nunca vi.
- Enfim. Eu entendo se você quiser ficar com o Augusto. [não são duas falas do mesmo personagem?]
- Eu soube ainda a [há] pouco.
Eu é que não iria dar banho e[m] marmanjo bêbado.